EFEITO TRUMP
Relatório mostra o aumento da confiança do consumidor em criptomoedas nos EUA

Reprodução Wharton
*Por Shankar Parameshwaran
Quando o professor de Marketing da Wharton School, escola de negócios da Universidade da Pensilvânia/EUA, David Reibstein, avistou recentemente um caixa eletrônico de bitcoin no Costco local, sua pesquisa ressoou. Uma presença na rede varejista de lojas de desconto, que conta com cerca de 140 milhões de membros, é um sinal claro de que as criptomoedas estão ganhando aceitação generalizada.
O recém-publicado Relatório de Confiança do Consumidor em Criptomoedas de 2024 captura essa tendência de crescente popularidade e expansão dos casos de uso, tanto offline quanto online. Reibstein foi coautor do relatório com os professores de Marketing da Wharton, Cait Lamberton e John Zhang, e Martin Paul Fritze, da Universidade Ludwig Maximilians, de Munique, Alemanha.
‘‘A confiança em criptomoedas continua a crescer’’, disse Reibstein, apontando o que considerou a principal descoberta do último relatório. ‘‘Há uma ‘invasão das criptomoedas’, com cada vez mais consumidores e varejistas migrando para elas.’’ Os pesquisadores lançaram o Índice de Confiança do Consumidor em Criptomoedas (c3i) em janeiro de 2023, que é monitorado mensalmente por meio de pesquisas com consumidores.
O relatório mais recente baseia-se no relatório do ano passado e identifica fortes correlações de longo prazo entre o c3i e os preços das criptomoedas, especialmente bitcoin e ethereum.
Aceitação em lojas físicas e online
O relatório de 2024 mostrou que a confiança em criptomoedas cresceu perceptivelmente desde 2023, como evidenciado por maiores taxas de propriedade e expansão dos casos de uso. Na última contagem, um terço de todos os participantes da pesquisa possuíam criptomoedas, e os proprietários predominantes eram homens e consumidores com idade entre 25 e 44 anos.
De acordo com a pesquisa, um número crescente de consumidores acredita que criptomoedas são aceitas tanto em lojas online quanto físicas. Por exemplo, entre janeiro de 2023 e dezembro de 2024, o número de participantes que presumiram que lojas online aceitam criptomoedas aumentou de 16% para 25%. Os autores do relatório preveem um aumento contínuo na confiança nas principais aplicações de criptomoedas.
Quase metade dos entrevistados percebeu as criptomoedas como um investimento de longo prazo, apesar das preocupações de que sejam moedas alternativas, sem apoio governamental.
Alimentando o otimismo
Os investimentos pessoais do presidente Donald Trump em criptomoedas também alimentam o otimismo em relação à crescente confiança no mercado. Sua família possui uma grande participação na World Liberty Financial, uma corretora de criptomoedas que arrecadou mais de US$ 550 milhões e lançou uma moeda digital chamada stablecoin, conforme noticiado pelo New York Times. Outra reportagem estimou que seus investimentos em criptomoedas representam quase 40% de seu patrimônio líquido, ou aproximadamente US$ 2,9 bilhões.
‘‘Trump saltou para onde seus seguidores já estavam’’, disse Reibstein. Com seus investimentos, ele tornou as criptomoedas ‘‘talvez atraentes para um público mais amplo’’, acrescentou. O relatório da c3i mostrou que mais republicanos do que democratas possuem criptomoedas. ‘‘Os republicanos, em comparação com os democratas, percebem a eleição de Trump como tendo um impacto mais positivo nos preços das criptomoedas’’, observou o relatório.
Com o tempo, Reibstein esperava que a atração pelas criptomoedas se espalhasse por todo o espectro político. ‘‘Enquanto os liberais ficam sentados, dizendo: ‘isso não é consistente com nossas crenças subjacentes’, seguir o dinheiro é. E, à medida que os preços das criptomoedas sobem, você verá cada vez mais pessoas aderindo a elas.’’
Sinais regulatórios
Reibstein ficou surpreso com a pesquisa, que constatou que os conservadores estavam muito mais inclinados a investir em criptomoedas do que os democratas. ‘‘Eles não queriam o controle centralizado que vemos nos bancos e no governo’’, disse ele. De fato, os republicanos, entre os entrevistados, expressaram ‘‘menores níveis de confiança em instituições centrais como a Comissão de Valores Mobiliários ou o Federal Reserve’’, observou o relatório.
‘‘Embora as criptomoedas sejam fundamentalmente construídas com base em princípios descentralizados, nossas descobertas iniciais sobre a interseção entre criptomoedas e política sugerem que a confiança do consumidor pode ser cada vez mais moldada por intervenções de atores centralizados’’, escreveram os autores no relatório. Um exemplo disso é a forte alta do preço do bitcoin após a eleição do republicano, ultrapassando US$ 100.000 em dezembro de 2024, após notícias de uma ‘‘abordagem regulatória mais branda’’ no governo Trump.
‘‘Tais desenvolvimentos podem, ao longo do tempo, desafiar a confiança fundamental nas criptomoedas como um sistema alternativo de troca e armazenamento de valor’’, apontou o relatório. Reibstein viu um sinal de alerta nisso. ‘‘Existe o risco de que as salvaguardas instaladas contra criptomoedas sejam menos prováveis de ocorrer’’, disse ele.
‘‘Acho que é isso que aqueles que investem em criptomoedas querem – menos regulamentação. Isso adiciona algum risco à medida que continua a crescer.’’ A volatilidade dos preços tem sido outro grande fator de risco com as criptomoedas, mas ‘‘isso diminuiu’’ nos últimos tempos, observou ele.
Não é o investimento mais seguro
Uma questão persistente para Reibstein é se a população em geral percebe as criptomoedas como uma moeda ou como um investimento. ‘‘A trajetória futura dos mercados de criptomoedas pode ir além do debate tradicional sobre se esses ativos podem funcionar como dinheiro’’, afirma o relatório. ‘‘Em vez disso, pode depender cada vez mais da crença do consumidor na capacidade das criptomoedas de sustentar um sistema descentralizado e seguro para armazenamento e circulação de ativos.’’
‘‘Em grande parte, é uma espécie de aposta, um investimento’’, observou Reibstein. Por exemplo, investidores de valor como Warren Buffett têm se mostrado cautelosos em investir em criptomoedas , embora ele tenha uma pequena participação em uma empresa brasileira com uma plataforma de criptomoedas.
‘‘Investidores muito cautelosos seguem o exemplo de Warren Buffett’’, continuou Reibstein. ‘‘Se você quiser investir em algo realmente seguro, não invista em criptomoedas, porque elas ainda estão em estágio embrionário. Elas ainda têm mais volatilidade do que o euro ou o dólar.’’
Dito isso, a popularidade das criptomoedas ignorou seus opositores. ‘‘Houve alguns escândalos com criptomoedas, mas eles não desaceleraram o crescimento [de sua popularidade]’’, destacou Reibstein. ‘‘Apesar desses escândalos, a criptomoeda continua sua tendência ascendente tanto em volume quanto em preços e penetração entre investidores e comerciantes. [Olhando para o futuro], a penetração talvez seja a métrica mais importante que devemos observar.’’ Mas sempre haverá uma parcela da população que jamais aceitará criptomoedas, observou Reibstein. ‘‘Meus pais jamais investirão em criptomoedas.’’
A Wharton School é a primeira escola de negócios universitária do mundo, fundada em 1881, na Universidade da Pensilvânia. É uma instituição de referência global em Administração, conhecida por seus programas de graduação e pós-graduação, como o MBA, e por sua forte ligação com a comunidade empresarial.
Shankar Parameshwaran é editor na Knowledge at Wharton, o jornal de negócios da Wharton School